Inovação espontânea é o mote do co-fundador da Apple e pioneiro na criação dos PCs

Depois de parceria com Jobs, Woz se dedica a novas empresas de tecnologia e projetos com a Nasa.

"Eletrônica tem que ser divertida, ou não tem graça." Apelidado de Mágico de Woz, o autor da frase, uma das jovens mentes brilhantes na revolução do PC, nos anos 1970, arrancou palmas de estudantes e executivos esta semana no Palácio das Artes.

Dono de outra máxima que ficou conhecida - "Não consigo confiar em um computador que não posso jogar pela janela" -, o co-fundador da Apple Computers Steve Wozniak falou durante uma hora e meia sobre sua trajetória profissional e pessoal, no evento Gestão do Futuro.
Além do codinome inspirado no Mágico de Oz, ele é chamado de "o outro Steve", já que Steve Jobs, seu amigo de juventude, ficou com a maior parte da fama e com o comando da empresa da maçã.

"Éramos como um casal, eu pensava em inovar ele, em vender", disse sobre a parceria com Jobs, encerrada em 1985, quando Wozniak deixou a Apple, nove anos após ter ajudado a fundar a companhia.
Hoje, Woz roda o mundo contando sua trajetória em palestras como as que fez no Brasil - em BH e em Campinas (SP). Além de compartilhar sua história, ele desenvolve novas empresas de tecnologia, campanhas verdes e projetos com a Nasa.
Woz enfatizou que a inovação espontânea é muito mais interessante do que a criação sob pressão. Casual, com blusa e calças pretas, o senhor de 58 anos, baixinho, arrancou, entre uma piadinha e uma frase de efeito, tímidos risinhos e suspiros incontidos da platéia de fãs engravatados.

Ele contou suas primeiras aventuras de pequeno nerd. Morador do Vale do Silício e filho de engenheiro, cresceu respirando inovação.
Brincava de construir rádios amadores e pequenos circuitos eletrônicos para se comunicar com outras crianças, numa espécie de rede entre as casas do bairro. Na faculdade, devorava manuais de eletrônicos ("eram detalhados e complicados, descrevendo todos os componentes internos") enquanto tentava projetar um computador simplificado, com menos chips.

A diversão era fazer travessuras tecnológicas. Assim, instalou, próximo à TV do dormitório da Universidade de Berkeley, um controle remoto que atrapalhava a freqüência do televisor.
"Tem gente que faz experiência com ratos. Eu preferia, escondido atrás da parede, fazer essa brincadeira com os meus colegas, enquanto eles ficavam segurando a antena de todas as formas possíveis para fazer a TV pegar direito", disse o traquinas Steve.
Ele também hackeou o sistema telefônico e criou um disque-piada (o que era proibido naquele tempo nos EUA). Tímido e sem jeito com as garotas, conheceu a atual esposa fazendo graça via telefone.
E nesse meio tempo, foi apresentado a Jobs, cinco anos mais novo.

Os amigos falavam sobre a efervescência cultural dos anos 60, ouviam Bob Dylan e, citando Shakespeare e Einstein, ambicionavam criar algo que fizesse diferença na história da humanidade. Assim, agrupando teletipos pesados e televisores, começaram a criar computadores pessoais.
"Todos os computadores antes do Apple 1 (lançado em 1976) tinham um painel cheio de botões e luzes. O nosso teve um teclado." O Apple 2 rodava programas armazenados em fitas cassete.
O ritmo de inovações, em paralelo ao trabalho do arqui-rival, Bill Gates, criador da Microsoft, era frenético. Woz chegou a desenvolver um disquete (algo até então realmente novo) em apenas duas semanas.

"O nosso maior impacto foi construir computadores simples, fáceis de usar, acessíveis a qualquer pessoa. O Lisa foi o primeiro com interface gráfica, um passo na direção do uso intuitivo desses equipamentos.
" Um dos últimos passos é o iPhone, da mesma Apple, revolucionando a interação, com a tela sensível ao toque dos dedos. Apesar do rancor que marcou a separação entre os Steves - enquanto Jobs ganha muito dinheiro com os produtos da Apple, Woz transformou sua história também em produto - ele encerrou a palestra no Palácio das Artes fazendo propaganda para a empresa do ex-amigo:
"Espero que vocês gostem dos produtos da Apple. Boa noite". Como o feiticeiro da ficção que inspirou seu apelido, Woz também é daqueles que saem de cena rapidamente.

CELEBRIDADE O analista de sistemas Wagner Bianchi, de 28 anos, não se conteve quando viu Woz. Com as mãos em forma de concha, na boca, gritava e traduzia:
"Esse é o cara! This is the guy!". Pudera. Bianchi é fã incondicional "do cara", desde que viu o filme Piratas do Vale do Silício (Pirates of Silicon Valley, 1999). O longa conta a história dos jovens gênios que mudaram a história do mundo, criando computadores pessoais.

"Ele é um ídolo. Comecei a estudar informática por causa desse filme. Vi que o cara era um gênio. E decidi minha trajetória a partir da história dele e do Jobs", contou Bianchi, que gravou toda a palestra na memória do celular. Apesar de ter cantado e dado pulinhos na cadeira da platéia durante o show de Fernanda Abreu, que abriu o evento, o analista de sistemas não tem dúvidas:
"É claro que a palestra foi muito mais empolgante!". Antes de ir para casa, ele ainda tentou convencer o segurança do Palácio das Artes a entrar no camarim. "Vou correr lá e ver se consigo tirar uma foto com ele!" Persistência, pelo visto, foi um valor passado de Woz para Bianchi.