“Siga em frente em linha reta E não procure o que perder” Gravação: Capital Inicial

Juca estava trabalhando em sua mesa quando foi chamado para uma reunião de urgência. Demorou em tirar sua atenção da tela do computador, atracado que estava com os dois olhos e todos os miolos do seu cérebro enterrados no projeto que desenvolvia. Entrou na sala de reuniões cansado, mas sorrindo. Pensou até em convidar os demais gerentes para tomar uma cerveja no final da tarde, para descontrair e relaxar um pouco. Onde estão eles? – perguntou para seu superior imediato, o Vitor. Juca percebeu que a voz de Vitor estava diferente, mais formal, quando respondeu: - Esta reunião é apenas comigo e com você Juca. Ainda sem entender o que viria pela frente, Juca se acomodou na confortável cadeira de couro preto. Dali em diante, não se lembra exatamente quais foram as palavras de Vitor. Perdeu a noção, perdeu o chão. Sabe apenas que em algum momento, ele disse: - Você não fará mais parte da nossa equipe. Decidimos pelo seu desligamento da empresa.
A experiência da demissão pode levar à reflexão, auto-avaliação e descobertas, numa verdadeira revisão da carreira profissional benéfica e fortalecedora.
Foi demitido? Tente entender as razões, busque o feedback. Seja verdadeiro com você, não se esconda atrás de justificativas que transferem para a empresa a responsabilidade de erros e derrotas.
Por outro lado, muitas vezes as pessoas não são mais adequadas em determinada posição não porque deixaram de serem boas profissionais. Pode não haver nada de errado com elas. Cada situação é exclusiva. Há ainda casos de pessoas que são tecnicamente excelentes, porém apresentam comportamentos que inviabilizam sua permanência na empresa.
Existe também a demissão por competência, ou seja, a empresa não quer a permanência do profissional devido a um desajuste que pode ser de timing, de visão estratégica ou até mesmo um desajuste envolvendo a famosa fogueira das vaidades. Sabe como é... Competência é algo que incomoda, chega a ser uma ameaça, uma afronta para os não tão competentes assim. Há empresas exigentes no processo seletivo, que contratam profissionais muito gabaritados. Depois, estes mesmos profissionais são fritados, boicotados, temidos exatamente pela sua invejável performance. Então fica assim: primeiro o indivíduo é escolhido a dedo, tem que ter experiência, isso e aquilo. Depois, ele tem que se comportar como um subalterno medíocre se quiser permanecer na empresa, para não ofender a ignorância dos poderosos sentados em berço esplêndido.
Seja como for, não faça críticas destrutivas da empresa onde você já trabalhou. Mantenha a política de boa vizinhança, pois o profissional que não serve mais para uma empresa pode ser aquele que serve como uma luva para outra empresa. Nas entrevistas de desligamento que faço, costumo dizer que, quando uma porta se fecha, outra porta mais atraente pode se abrir. Portanto, a demissão pode ser a oportunidade para uma mudança positiva. Encare-a de forma serena, sem desespero, pois durante as tempestades é que se revelam os grandes navegadores.
Acredite no seu valor, na sua empregabilidade, na sua capacidade de se reformular rapidamente. Procure um profissional para orientar sua carreira, um coach, alguém que vai falar aquilo que você precisa ouvir e não o que você quer ouvir. E não se esqueça: Saia com a cabeça bem erguida, com toda a elegância e não olhe para trás. Passado é passado.

KÁTIA RICARDI DE ABREU é Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Membro Certificado Clínico pela ALAT e UNAT, proprietária da EGO CLÍNICA E CONSULTORIA LTDA. Atende em seu consultório crianças adolescentes, adultos, idosos, casais, famílias. Atua em empresas. É palestrante e escritora

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