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Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
Ricardo Mioto / Folha de S.Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010
Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga

As ciências da Terra têm conseguido progredir muito nas últimas décadas, mas a sociedade ainda não sabe aproveitar o conhecimento que elas produzem, diz uma das maiores especialistas em terremotos nos EUA. Lisa Grant, da Universidade da Califórnia em Irvine, acaba de publicar na revista "Science" um trabalho estimando a magnitude do grande tremor que a Califórnia está gestando, mas diz que é difícil conseguir se fazer ouvida.


"Estou muito triste com a tragédia do Haiti, mas não estou surpresa", diz a cientista. Segundo ela, não dá para saber quando a ciência será capaz de prever a data exata de um grande terremoto. Mas já se sabe com boa precisão onde eles serão e qual sua probabilidade. Ainda assim, os dados produzidos por sismólogos são largamente ignorados na maior parte do mundo.


"No Haiti, eles não foram bem utilizados", diz. "A ciência evoluiu, mas o jeito com que a sociedade lida com ela não melhorou." Leia abaixo entrevista que a cientista concedeu à Folha.


*


FOLHA - O terremoto é o pior desastre natural? Qual a sra. escolheria enfrentar entre um furacão como o Katrina e um grande terremoto?
GRANT - O furacão. Nele você perde a infraestrutura, mas tem a chance de correr. No terremoto, não há aviso prévio. Eu não sei se um dia conseguiremos saber precisamente quando um terremoto vai acontecer. Eu estou tentando. É difícil. Hoje, o máximo que podemos fazer é dizer "este lugar é perigoso", mas com o tempo as pessoas esquecem e acabam morrendo soterradas.


FOLHA - As pessoas esquecem?
GRANT - As pessoas não gostam de pensar nisso, porque é assustador. Acham que, se não pensarem, não vai acontecer. Então não se preparam, nem sequer estocam água em casa.


FOLHA - Ainda que alguns geólogos gostem de dizer que, na Califórnia, um grande terremoto já está "no décimo mês de gestação"?
GRANT - É uma boa comparação: você não pode saber exatamente quando um bebê vai nascer, mas pode dizer quando está perto de acontecer. É o caso aqui da Califórnia, com o "big one", tremor muito maior do que o que ocorreu no Haiti. E o que determina o impacto de um terremoto é o quanto você se para se prepara para ele.


FOLHA - A sra. acha que ainda verá um grande terremoto na Califórnia?
GRANT - Há uma probabilidade grande. Por isso estou preocupada. E veja... na minha casa eu tenho 50 galões [quase 200 litros] de água estocada. Estou fazendo tudo para ajudar minha comunidade a se preparar. Falei com o reitor da minha universidade, com o diretor da escola dos meus filhos. É algo que não sai da minha cabeça.


FOLHA - Mas a senhora não está tranquila por estar preparada?
GRANT - Não, porque posso não estar em casa! E se acontecesse agora? Meus filhos estão na escola. Ninguém está em casa a não ser os cães, e eles não sabem como abrir as garrafas d'água. Ontem eu estive com algumas amigas. Estávamos conversando. Nenhuma estoca água; estão muito ocupadas para se preocupar com isso. E me ouviram falar disso por anos!


FOLHA - As pessoas não a encaram como uma "sra. apocalipse"?
GRANT - Sim, até alguns familiares... Você deve conhecer Cassandra, da mitologia grega [para quem Apolo concedeu o dom de prever acontecimentos com a condição de que ninguém acreditasse nela]. Não tenho escolha. Vi os dados, sou especialista em terremotos. Nunca me perdoaria se algo acontecesse e eu não tivesse feito de tudo para alertar as pessoas. Uma descoberta do nosso último trabalho, na revista "Science", é que se você olhar para os últimos cinco grandes terremotos da história da Califórnia, perceberá que as condições de hoje em dia são parecidas. Meu irmão é pastor em uma igreja. Ele prega o evangelho, e eu prego a preparação para o terremoto. [Risos.]


FOLHA - A geologia é uma área de pesquisa popular na Califórnia, disputada por muitos alunos?
GRANT - Não muitos, na verdade. Trabalhamos sempre dando más notícias. As pessoas não querem isso. Sempre tive alunos para ver minhas aulas, mas o interesse em fazer doutorado era bem menor. Mas, com o Haiti e com o tsunami de 2004, o mundo começa a reconhecer que o assunto é importante.


FOLHA - Por que a sra. decidiu entrar no campo das "más notícias'?
GRANT - Por acidente. Eu queria estudar poluição da água. Mas no meu primeiro dia no doutorado, tivemos um terremoto no campus. Com o tempo, vi que nenhum californiano vai morrer bebendo água poluída. Mas temos um risco enorme de terremotos. Então, eu mudei.


FOLHA - Sabemos mais hoje sobre terremotos do que naquela época?
GRANT - Sim. Um monte de lugares perigosos foram identificados, inclusive no Haiti. Mas os dados não foram bem utilizados. Estou muito triste com a tragédia naquele país, mas não estou surpresa. Muitos cientistas já conheciam o risco. Poucos minutos após o terremoto, antes de qualquer notícia aparecer na imprensa, um dos meus colegas parou no meu escritório para me contar. Ele disse: "Parte meu coração pensar nesta tragédia. Vai ser terrível". A ciência evoluiu, mas o jeito com que a sociedade lida com ela não melhorou.


FOLHA - Como assim?
GRANT - Por exemplo, construir prédios resistentes é mais caro. Então, as pessoas ignoram o risco na maior parte do mundo onde há terremotos. Mas a função básica de uma construção é ficar em pé. Não é parecer bonita! Já debati isso com arquitetos. Na Califórnia temos leis para tornar as construções seguras, mas não é assim na maior parte do mundo.


FOLHA - Mas o Haiti não é pobre demais para se importar com isso?
GRANT - Sim, muito pobre. Mas algumas das construções mais críticas deveriam ser seguras. A sede da ONU, o palácio presidencial, os hospitais! Eles vão ter de começar tudo de novo. Seria uma tragédia reconstruir tudo igual, colocar muita gente em áreas de risco, porque esse episódio [o tremor] vai se repetir, mesmo que demore mais de cem anos. É bom estar preparado. Em 1992, tivemos na Califórnia um terremoto similar ao do Haiti. Houve feridos, mas ninguém morreu, porque as construções ficaram em pé.


FOLHA - Mas o furacão Katrina não mostrou que mesmo os EUA falham em se preparar bem?
GRANT - Sim. New Orleans estava em todos os livros de desastres naturais! Eu sempre ensinei que era um lugar com um desastre esperando para acontecer. Perto do nível do mar, de um grande rio, de um lago. Acho que os EUA aprenderam com ele. Espero que, na próxima, a resposta seja mais rápida.


FOLHA - Ir embora da Califórnia já passou pela sua cabeça?
GRANT - Algumas vezes, mas aqui não vai ser tão terrível quanto no Haiti. O que me preocupa são os meus filhos, porque tomo as decisões por eles. O mais novo tem quatro anos. E se um se machucar? Como eu me sentiria? É difícil.

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