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Cultura e Arte
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Trabalhos manuais eram ocupações de prestígio na Antiguidade
Ricardo Bonalume Neto / Folha de S.Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010
Trabalhos manuais eram ocupações de prestígio na Antiguidade

A idéia popular de que os gregos e romanos antigos viviam em torres de marfim intelectuais e detestavam o trabalho manual --considerada uma atividade vil relegada a escravos-- está sofrendo mais um rude golpe. Literalmente, está levando uma pedrada.


Uma pesquisadora do Imperial College de Londres, Serafina Cuomo, está mostrando agora que teoria e prática, arte e ciência, matemática e engenharia já se harmonizavam perfeitamente no trabalho dos engenheiros militares que projetavam e operavam armas então sofisticadas como as catapultas.


"Uma olhada de perto no desenvolvimento da catapulta mostra que essa separação não existia na realidade. Os engenheiros de catapultas combinaram aptidões matemáticas e de engenharia para criar as armas mais poderosas de sua época", afirmou Cuomo em um artigo na revista científica norte-americana "Science".


Não há dúvida de que os gregos tinham escravos para fazer as tarefas que consideravam desagradáveis, como aliás acontecia com todos os povos da Antiguidade. Mas a guerra não era, e não é, coisa para ser deixada na mão de escravos. Todo cidadão livre era um guerreiro potencial. Os gregos foram os pioneiros do chamado "modo de guerra ocidental", expressão popularizada por autores como o americano Victor Davis Hanson.


A guerra dos povos ditos "primitivos", como os índios brasileiros ou os cortadores de cabeça da Nova Guiné, é basicamente ritual. O combate é quase uma encenação teatral, os mortos são poucos e os inimigos capturados são bem tratados, antes de devorados.


Já a guerra dos povos ditos "civilizados" é brutal, com massacres inclusive de mulheres e crianças. Os gregos não chegavam a tanto, mas desenvolveram um modo de guerrear rápido e brutal: duas "falanges" de guerreiros se encontram em um campo de batalha de preferência plano, cortam-se aos pedaços com espadas e lanças, e a guerra se resolve em uma tarde. Não é por nada que um dos livros de Hanson se chama "Carnage and Culture" (Carnificina e Cultura).


Mesmo a guerra grega tinha um lado ritual, especialmente a mais antiga, ou a descrita nos livros mais antigos, como a Ilíada e a Odisséia, as duas obras sobre uma Guerra de Tróia (cerca de 1250 a.C.) atribuídas a Homero (século 8 a.C.), que fundaram ao mesmo tempo a literatura e a história militar ocidentais. Os combates homéricos são individuais, entre grandes guerreiros --como Ajax, Aquiles, Heitor etc. O mesmo se nota no Antigo Testamento judaico, como o famoso embate entre Davi e Golias. Mesmo o anonimato da linha de guerreiros pesadamente armados, os "hoplitas", envolvia destreza individual. Os gregos não gostavam de armas de arremesso, como dardos e fundas ou arco e flecha, pois isso tirava pontos da destreza individual. Um fracote com um arco e flecha pode matar um fortão, como Davi fez com sua funda. Esse comportamento dos guerreiros gregos tornava socialmente difícil a aceitação de armas como as catapultas. "Existem passagens bem conhecidas de Platão e Aristóteles que expressam um preconceito contra o conhecimento técnico, mas eles não são as únicas fontes que nós temos da Antiguidade", disse Cuomo à Folha.


Barreiras éticas


Matar a grande distância não era aceitável eticamente, como mostra Cuomo ao citar uma frase atribuída a um rei de Esparta, Arquidamo, que reinou de 338 a.C-221.a.C. Segundo o grego Plutarco (46?-120 d.C.), ao ver um dardo lançado de uma catapulta, o rei espartano gritou indignado: "Por Heracles, isso é o fim do valor de um homem". Heracles é o semideus Hércules dos romanos, nome mais conhecido hoje. É difícil dizer se esse tipo de atitude era comum ou não. "Eu acho que ainda não se fez muita pesquisa a esse respeito, e essa é uma das áreas em que eu estou trabalhando agora para o livro que estou escrevendo", diz Cuomo. As novas armas foram criadas para funções específicas, ligadas menos à batalha campal e mais aos assédios de cidades muradas. Esparta era a cidade-Estado grega mais militarizada, uma verdadeira Prússia da Antiguidade. Tanto que os espartanos desdenhavam construir muros em volta da cidade. Os muros, diziam os espartanos, eram os escudos redondos dos seus hoplitas, os "hoplon" (de onda deriva a palavra "hoplita", que designa o guerreiro grego clássico). Mas a tecnologia tem o dom de desprezar tradições. A palavra grega "katapeltes" significa justamente "penetrador de escudos". As primeiras armas que recebem o nome genérico de catapultas eram uma espécie de arco e flecha anabolizado, apoiado na barriga (daí o seu nome, "gastrafetes" --"gastro" significa estômago, em grego). Foram aperfeiçoadas depois que foram sendo descobertas formas melhores de usar a energia acumulada nas cordas retesadas que serviam como "molas". Uma dessas armas baseadas na torção era a "oxybeles", capaz de penetrar com um dardo pesado um escudo de ferro a 400 metros de distância. O rei Arquidamo tinha razão em reclamar. Os gregos e seus sucessores macedônios não chegaram a usar com freqüência catapultas em batalhas campais. Nem tanto pela ideologia, mas pela dificuldade em transportar e armar, além da cadência de tiro pouco rápida que inviabilizava táticas de "choque e pavor".


Ataques urbanos


Já nos assédios a cidades, a nova arma, que hoje se chama artilharia, ganhou seu principal papel. Catapultas, disparando dardos ou bolas de pedra, eram a arma ideal para atacar cidades e muralhas. Ou mesmo para iniciar os primórdios das guerras biológica, química e psicológica, atirando carcaças de animais doentes, venenos ou cabeças de prisioneiros dentro das cidades sitiadas. As primeiras catapultas foram criadas no Oriente Médio, onde hoje fica o Iraque, no século 9º a.C. Mas foram os gregos que realmente as desenvolveram, usando experimentos e cálculos matemáticos para produzir a artilharia mais letal da Antiguidade. Dionísio, tirano de Siracusa, é o sujeito apontado pelos textos existentes como o grande divulgador das catapultas e dos engenheiros que as construíam. Ele teria até feito um concurso público em 399 a.C. para conseguir os melhores artesãos e engenheiros militares. Siracusa, na Sicília (Itália), era uma colônia grega onde nasceu o mais importante engenheiro e matemático da Antiguidade clássica ocidental, Arquimedes (cerca de 290/280-212/211 a.C.). Outro rei de Siracusa, Hierão 2º (306-215? a.C.), contratou Arquimedes para construir máquinas de guerra para defender a cidade contra os romanos. Arquimedes teve um sucesso considerável, embora boa parte do que acabou transmitido pelas fontes antigas esteja mais para lenda do que para fato. Por exemplo, ele teria usado espelhos para queimar os navios romanos, como uma criança que usa uma lupa para queimar formigas. Já seu uso de grandes catapultas parece mais plausível. Arquimedes teria sido uma grande presa para os romanos, assim como os cientistas nazistas o foram para os conquistadores americanos e soviéticos em 1945 --o conhecimento dos alemães deu o pontapé inicial dos programas espaciais e de mísseis balísticos da Guerra Fria, dos dois lados da Cortina de Ferro. Basta lembrar Wernher von Braun, "pai" dos mísseis que destruíam Londres em 1944/ 45 e do foguete que levou o homem à Lua em 1969. Arquimedes, porém, dizem os autores conhecidos, teria sido morto em 212 a.C., durante a tomada de Siracusa pelos romanos, por um legionário que não teve paciência para prestar atenção nos cálculos geométricos que ele fazia no chão de seu laboratório. É tantalizante imaginar o que esse Von Braun antigo poderia ter feito pelos romanos, que logo passaram a aperfeiçoar as catapultas e se tornaram exímios em usá-las. Tomar cidades era praxe dos exércitos de Roma. E para isso eles criaram catapultas como a "onagro", nome de um burro selvagem que também descrevia uma máquina de guerra operada por 11 homens capaz de lançar uma pedra de 80 kg. Seu princípio de operação "é similar ao de uma ratoeira doméstica", diz um dos maiores especialistas na guerra greco-romana, John Warry, que foi professor da academia militar britânica de Sandhurst. Essa bala podia ir destruindo lentamente os parapeitos das cidades até o momento em que se criasse uma brecha que os legionários usariam para a invasão. Segundo Flávio Renato Vegécio, um brilhante teórico tardio --que viveu na virada do século 4º para o século 5º da Era Cristã--, as legiões romanas levavam uma quantidade formidável de artilharia na forma de catapultas.


Legiões modernas


A legião foi a primeira unidade militar que merece ser chamada de "moderna", pois, além de ter uma cadeia de comando semelhante à que existe ainda hoje, era uma formação de "armas combinadas" --incluía infantaria, cavalaria, artilharia e engenharia. Exatamente o mesmo que uma unidade atual --uma "divisão", ou uma "brigada"-- de qualquer exército existente.


De acordo com o período histórico, a legião romana tinha entre 3.000 a 6.000 homens. A artilharia de uma legião, diz Vegécio, incluía nada menos que 10 onagros e 55 balistas (uma catapulta menor).


Dados como esses tornam fácil concordar com a tese de Cuomo. Não só a artilharia antiga era importante, como também seus praticantes eram respeitados socialmente, os primeiros cientistas-engenheiros-tecnólogos a merecer esses nomes.

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