Sócrates, quando foi levado ao Tribunal Ateniense pelo simples fato de ser gênio, ao ser interrogado sobre seu crime respondeu: “Não sei, Atenienses, que influência exerceram meus acusadores em vosso espírito; a mim próprio quase me fizeram esquecer quem sou, tal a força de persuasão de sua eloquência. Verdade, porém, não proferiram nenhuma”. Acabou sendo injustamente executado.
Sem conhecimento algum dos fatos verdadeiros, mais uma vez, a opinião pública de forma indevida massacra a figura do padre Donizete. O Pastor era um dos passageiros do carro cujo o condutor, sob as penas da lei, assumiu a autoria da direção daquele veículo quando sofreram uma colisão simultânea com duas motos. Consta dos depoimentos que os ocupantes do veículo perceberam que os curiosos desferiam ameaças contra todos e que um dos acidentados não chegou a cair no chão, enquanto o outro aparentava ferimentos em uma das pernas. E, diante das ameaças, resolveram procurar agasalho junto ao 5º Distrito Policial, que se localiza bem perto do local dos fatos. Próximos do DP, foram abordados por policiais e ficaram das 17 horas até as 23 horas sendo massacrados e desrespeitados por pessoas que não merecem ser citadas. Bom é dizer que nesse espaço longo de tempo, somente foram datilografadas três folhas que, somadas, não passariam de uma lauda. Ou seja, não daria para preencher um folha A-4. Mais ainda, um dos policiais civis chegou a negar água ao padre, mandando que calasse a boca e que ali não tinha o direito de falar nada.
Por coincidência, neste intervalo de tempo, na rua Silva Jardim, defronte a Droga Raia, quando estava retornando à minha residência, deparei com um veículo capotado, e tenho certeza de que nenhuma pirotecnia foi feita contra aquele motorista . Já com o padre, quando cheguei na Delegacia de Polícia, tive que pedir licença para os repórteres, para adentrar aquele recinto. Aliás, considerando o local e as proporções do acidente, entendo que no centro da cidade a velocidade aplicada no veículo capotado era, no mínimo, incompatível com o local.
Pergunto: alguém em nossa cidade pode declinar o nome do motorista que causou aquele acidente? Mais ainda: quanto tempo a Polícia Civil gastou para elaborar aquela ocorrência? No caso do padre, a polícia chamou a imprensa para fazer aquela pirotecnia que fizeram com o Pastor. Tomo a liberdade de responder que, com absoluta certeza, o BO (do carro capotado) foi lavrado em pouco espaço de tempo e ninguém da imprensa foi chamado.
Fiquei pensando como advogado o que fazer para defender aquele ser humano, e cheguei à conclusão de que deveria plagiar o decano Sobral Pinto, quando em defesa do comunista Luis Carlos Prestes evocou o direito daquele ser humano de ser julgado pela Lei de Proteção aos Animais, pois a Lei de Proteção aos Seres Humanos lhe foi negada.
E é por esta razão que tomo a liberdade de fazer minhas as palavras do insigne ministro Ribeiro da Costa, ex-presidente do STF, quando sentencia: “Só uma luz, nesta sombra, nesta treva, brilha intensa no seio dos autos. É a voz da defesa, a palavra candente do advogado, a sua lógica, a sua dedicação e o seu cabedal de estudo, de análise e de dialética. Onde for ausente sua palavra, não haverá Justiça, nem Lei, nem liberdade, nem honra, nem vida”.
Dr. JOSÉ CURY NETO
Advogado rio-pretense
